quarta-feira, 11 de setembro de 2013

CONCURSO DE TALENTOS

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Concurso de talentos agita CDP Feminino de Franco da Rocha

              Bastou observar o brilho nos olhos das funcionárias do Centro de Detenção Provisória Feminino (CDPF) de Franco da Rocha, Juliana Pissolato e Ana Carolina Manga, para perceber a satisfação de dever cumprido, logo que terminaram as apresentações das reeducandas no “Projeto Encanta”, uma espécie de show de talentos. As oito finalistas se apresentaram para uma plateia formada por funcionários, diretores de unidades prisionais e convidados.

             Elas cantaram músicas de grandes intérpretes brasileiros e foram aplaudidas com entusiasmo pelos presentes. A vencedora recebeu um violão como prêmio, entregue pelo Coordenador de Unidades Prisionais da Região Metropolitana de São Paulo, Hugo Berni Neto.

             O evento aconteceu dentro da radial (corredor central da unidade que dá acesso aos raios habitacionais), local onde foi montado um palco e dispostas mesas para os jurados, autoridades, reeducandas e convidados. As presas cantoras iniciavam as apresentações visivelmente emocionadas e, na medida em que as primeiras notas eram entoadas, a interação com a plateia as deixavam mais descontraídas, ao ponto de fazerem interpretações jamais imaginadas em um presídio. “O projeto é parte de uma série de atividades de reintegração promovidas pela diretoria do CDPF e é utilizado como instrumento diferenciado de estímulo ao aprendizado e à reflexão para as presas que apresentam suas habilidades para o canto”, diz um trecho da nota de apresentação.

             Apesar de a disputa estar acirrada, a presa Adriana de Lima já mostrou “ao que veio”, logo que subiu ao palco. Seu carisma e empatia com as demais reeducandas se consolidou quando soltou a voz ao interpretar a música “Garoto Maroto”, da sambista Alcione. Ela conquistou o primeiro lugar, seguida de Jennifer Ramos Gila, em segundo, e Ana Paula Rodrigues da Silva, em terceiro.
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Fase classificatória

             Uma união de esforços resultou no sucesso do evento, até então, inédito em um centro de detenção onde as presas aguardam julgamento. O “start” do projeto se deu há cerca de dois meses, quando Juliana e Ana Carolina – com o apoio de outros funcionários – começaram as preleções nos parlatórios dos raios habitacionais fazendo as audições das cerca de 120 reeducandas que se inscreveram para participar. Dessas, foram escolhidas as oito finalistas que cantaram acompanhadas de playback, na disputa final. “Nós fizemos uma verdadeira maratona de revezamento durante duas semanas, de segunda a sexta-feira e ouvimos todas as inscritas; para isso contamos com a colaboração de funcionários de outros setores, como saúde, psicologia e enfermaria”, relembra Juliana. “Elas foram avaliadas nos quesitos afinação, interpretação e compatibilidade da voz com a música”, destacou Ana Carolina.

             Na época, quem incentivou a realização do concurso, e esteve presente prestigiando, foi o então diretor do CDPF, Marco Aurélio Cardoso de Almeida. Ele deu total apoio às funcionárias para buscarem recursos e organizarem o que chamou de “proposta de reabilitação”. “Nós estabelecemos parcerias com as empresas instaladas aqui na unidade e a prefeitura municipal cedeu o som”, disse Almeida. “Foi uma forma de dar oportunidades às presas para demonstrarem seus talentos e também de valorizá-las como pessoas”, acrescentou.

             Com a chegada do novo diretor da unidade, Felipe Oliveira Lisboa Goes, os trabalhos não pararam e o incentivo à realização do projeto foi total. Ele trouxe para o local, a experiência de já ter dirigido o Centro de Progressão Penitenciária Feminino (CPPF) de São Miguel Paulista, presídio de regime semiaberto na grande São Paulo. “O grande desafio é desenvolver o projeto dentro de uma unidade de regime fechado, onde as presas ainda não foram condenadas”, admitiu Goes. “Fiquei muito contente e satisfeito ao ver o resultado que certamente contribuiu para elevar a autoestima, não só das presas que participaram, mas de toda a população do CDPF”, destacou.

             As empresas Siratel Indústria Eletrônica e Violões Di Giorgio também colaboraram com o concurso. As roupas com as quais presas se apresentaram foram confeccionadas por internas, no ateliê de costura do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico "Prof. André Teixeira Lima" (HCTP 1) de Franco da Rocha.

             No encerramento do concurso, o “Coral Encanta” fez uma apresentação especial. O grupo é formado por reeducandas que se classificaram em segundo lugar em cada Raio Habitacional, na fase de classificação.

Jurados: 
Ismael José Silveira – Professor de música e percussão
Mara Manga – Cantora
Charles Paulino – Dentista da unidade e integrante de um coral independente em São Paulo

Por: Jorge de Souza
Fonte: SAP